A saideira

Olá pessoal, vou postar aqui no blog os contos que eu escrevi para o site do Livro do Fim do Mundo (http://olivrodofimdomundo.com.br/) espero que gostem:

- Alô, Rafa... cara, eu tive um sonho muito louco!
- Tá mas pera aí, porque você estava dormindo às quatro da tarde?
- São quatro e quinze!
- Ah Lucas! uns minutos a mais ou a menos, quê importa?
- Olha cara, eu sonhei que o mundo ia acabar em uma hora e foi tão real, tô com uma sensação estranha...
- Eu sei do que você precisa, vamos aproveitar que hoje é sexta e bora sair pra beber nessa porra! tô passando ai no seu apê.
- beleza, até mais!

quando o Rafa chegou na minha casa eram quatro e meia, eu entrei no carro dele e decidimos ir àquele barzinho na Barra. Eu fui calado a maior parte do caminho, fui observando a paisagem e a vida parecia normal e tranquila, bem...tranquila pros padrões de uma cidade como Salvador, foi quando paramos no sinal e de repente um homem bateu no meu lado do vidro (que por sorte não quebrou)com uma barra de ferro. Era um sujeito mal vestido e que com certeza cheirava mal também e fixou o olhar em mim como se quisesse dizer algo mas meu momento de perplexidade passou quando o Rafa gritou "assalto!" e deu uma ré brusca no carro de pelo menos uns 5 metros, sorte que não haviam outros veículos atrás, depois aceleramos em direção ao homem que ficou parado olhando enquanto avançávamos o sinal.
- Tá tudo bem aí Lucas?
- Tá.
- Que loucura!
Loucura mesmo, "o que será que ele queria comigo?", fui pensando enquanto Rafa falava algo sobre o quão violenta a cidade está, logo me convenci que estava exagerando,talvez meu amigo tenha razão e eu só precise de uma cervejinha pra esfriar a cabeça.

Chegamos no bar e pedimos a bebida:
- garçom, traz uma aqui pro meu amigo que tá pensando que o mundo vai acabar! Então, me conta mais sobre seu sonho.
- não lembro!
Mas eu lembrava e foi desesperador.
- Ânimo Lucas! carnaval vem aí! - Ele sempre começava a se animar pelo menos 2 meses antes mas agora algo me dizia "não dessa vez".
- Ah! não gosto muito de carnaval. - Respondi vagamente.
- Nem eu, mas a gente só vai pra pegar mulher!!
- Rafa, o mundo está prestes a acabar...eu sinto.
- Tá bom, digamos que o mundo vai mesmo acabar mas e aí?
- E aí o que?
- Qual é seu grande plano, ô gênio??
- Nenhum.
- Ajudaria se a gente sei lá, procurasse um abrigo subterrâneo?
- Nem um pouco.
Ambos fomos surpreendidos pela certeza com que essas palavras saíram da minha boca e tive a leve sensação que meu amigo acreditou por um instante.

- Cara! o mundo vai acabar!
- Pera aí Lucas! o que você tá fazendo?
- Eu tô chorando não tá vendo?
- Para com isso, vão pensar que você é gay!
- Tá bem.
- Está bêbado! uma cervejinha só e você já tá bêbado, parece um moleque! esquece essa história de fim do mundo! garçom, desce outra geladinha!
Após um breve silêncio ele falou:
- Então, que horas você disse que o mundo vai acabar mesmo?
- Cinco e quinze.
- Bem, agora são cinco horas...sabe o que quer dizer? que ainda dá tempo de uma saideira!
- Claro.
Eu refleti sobre esse episódio, tinha um nó na garganta, e se outras pessoas tivessem sido avisadas? e se fosse pra eu fazer alguma coisa? eu poderia salvar o mundo? talvez aquele homem no sinal tinha as respostas para mim... talvez fosse um aviso pra que eu fizesse algo a respeito mas eu estou aqui enchendo a cara num bar. Foi aí que Rafa interrompeu meu pensamento erguendo o copo:
- Um brinde!
- À quê?
- Ao fim do mundo... e à nossa vida, não foi perfeita mas nos divertimos!
- Claro amigo!
Após o brinde eu virei meu copo de cerveja como se fosse o último...e de fato era.
(Larissa Rocha)

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